domingo, 5 de fevereiro de 2012

O ICI e sua Africanidade frente à conjuntura do negro em uma sociedade predominantemente preconceituosa


O ICI e sua Africanidade frente à conjuntura do negro em uma sociedade predominantemente preconceituosa

* Por Leandro Coutinho

Quão representa um acúmulo étnico sobre nossas origens. Que importância tem, entender o que significa estar em um espaço onde grande parte dos que perpassam e se constroem são etnicamente distintos?
O Instituto de Ciência da Informação (ICI) possui um dos cursos que mais adentram estudantes negros em nossa instituição. Isso sem dúvida representa um avanço em se tratando de Universidade Federal da Bahia (UFBA). Nossa Universidade sempre foi e continua sendo elitista (apesar das cotas terem mudado um pouco essa realidade), porém, o ICI se destaca dentre as unidades da UFBA quando o assunto é pluralidade étnica.
A negritude no ICI metaforiza o quanto desproporcional é a nossa sociedade. Vivemos em um Estado, que por mais miscigenado que possa ser (e é), é comum constatarmos vazios substancias quanto à inserção de afro-descendentes em determinados contextos sociais.
O Brasil precisa evoluir muito quando o assunto é paridade étnica. Entretanto, como na maioria dos paises, nossa constituição estabelece igualdade plena para todos. “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.” Contudo, não é bem assim que a realidade funciona.
O Estado tem uma dívida enorme com os afro-descendentes do nosso país. Esse povo, que há tempos vem sofrendo essa exclusão social, carece ser restituído por todas as injustiças que sofreram e vem sofrendo.
Imposto negro. Talvez muitos saibam o que significa, porém, só quem é entende o que realmente representa. Imposto negro é o preço que todo afro-descendente paga por existir; é ter o dever de demonstrar constantemente a todos e todas que você é capaz de estar onde está. Em suma, é pagar por uma visão há tempos imposta; visão essa que entende o negro como um ser incapaz de competir com os outros.
O negro precisa diariamente mostrar o seu valor. Necessita se auto-afirmar para não ser segregado por essa sociedade preconceituosa e desigual. Essa mesma sociedade se esquece que foram eles, os negros, um dos pilares responsáveis pela construção do que nós entendemos hoje por Brasil.
Desde o descobrimento, foram os negros vindos da África (diáspora) sob condições desumanas que realizavam todo o trabalho pesado nos engenhos de açúcar, no período colonial, enriquecendo nossos até então colonizadores à custa dos negros que nem sequer recebiam salários; e hoje, os serviços pesados continuam a ser executados por esses mesmos negros de outrora.
Diante dessa conjuntura, as ações afirmativas representam um passo importante para a superação dessa desigualdade. Uma dessas ações, as cotas, fazem justiça há um povo que historicamente foi colocado à margem sob todos os aspectos.
Em suma, o ICI, com sua estrutura modesta e simpática, é um espaço que na concepção étnica se destaca em nossa Universidade. Sua comunidade (e em grande parte os estudantes) tem na pluralidade racial como uma das suas características marcantes. Isso representa, sem dúvida, em um acúmulo considerável em se tratando de respeito às diversidades, prática fundamental e necessária para a nossa formação humanística.
* Estudante de Arquivologia, militante do DAARQ (apoio), Coletivo O Estopim! e DCE-UFBA.
                                                                                                                                 

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