O ICI e sua Africanidade frente à conjuntura do negro em uma sociedade
predominantemente preconceituosa
* Por Leandro Coutinho
Quão representa um acúmulo étnico
sobre nossas origens. Que importância tem, entender o que significa estar em um
espaço onde grande parte dos que perpassam e se constroem são etnicamente
distintos?
O Instituto de Ciência da
Informação (ICI) possui um dos cursos que mais adentram estudantes negros em nossa
instituição. Isso sem dúvida representa um avanço em se tratando de Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Nossa Universidade sempre foi e continua sendo
elitista (apesar das cotas terem mudado um pouco essa realidade), porém, o ICI
se destaca dentre as unidades da UFBA quando o assunto é pluralidade étnica.
A negritude no ICI metaforiza o
quanto desproporcional é a nossa sociedade. Vivemos em um Estado , que por mais miscigenado
que possa ser (e é), é comum constatarmos vazios substancias quanto à inserção
de afro-descendentes em determinados contextos sociais.
O Brasil precisa evoluir muito
quando o assunto é paridade étnica. Entretanto, como na maioria dos paises,
nossa constituição estabelece igualdade plena para todos. “Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.” Contudo, não é
bem assim que a realidade funciona.
O Estado tem uma dívida enorme
com os afro-descendentes do nosso país. Esse povo, que há tempos vem sofrendo
essa exclusão social, carece ser restituído por todas as injustiças que
sofreram e vem sofrendo.
Imposto negro. Talvez muitos
saibam o que significa, porém, só quem é entende o que realmente representa. Imposto
negro é o preço que todo afro-descendente paga por existir; é ter o dever de demonstrar
constantemente a todos e todas que você é capaz de estar onde está. Em suma, é
pagar por uma visão há tempos imposta; visão essa que entende o negro como um
ser incapaz de competir com os outros.
O negro precisa diariamente mostrar
o seu valor. Necessita se auto-afirmar para não ser segregado por essa
sociedade preconceituosa e desigual. Essa mesma sociedade se esquece que foram
eles, os negros, um dos pilares responsáveis pela construção do que nós
entendemos hoje por Brasil.
Desde o descobrimento, foram os
negros vindos da África (diáspora) sob condições desumanas que realizavam todo
o trabalho pesado nos engenhos de açúcar, no período colonial, enriquecendo
nossos até então colonizadores à custa dos negros que nem sequer recebiam
salários; e hoje, os serviços pesados continuam a ser executados por esses
mesmos negros de outrora.
Diante dessa conjuntura, as ações
afirmativas representam um passo importante para a superação dessa desigualdade.
Uma dessas ações, as cotas, fazem justiça há um povo que historicamente foi
colocado à margem sob todos os aspectos.
Em suma, o ICI, com sua estrutura
modesta e simpática, é um espaço que na concepção étnica se destaca em nossa Universidade. Sua
comunidade (e em grande parte os estudantes) tem na pluralidade racial como uma
das suas características marcantes. Isso representa, sem dúvida, em um acúmulo
considerável em se tratando de respeito às diversidades, prática fundamental e
necessária para a nossa formação humanística.
* Estudante de Arquivologia,
militante do DAARQ (apoio), Coletivo O Estopim! e DCE-UFBA.
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